25 de julho de 2019

"Ou Tudo ou Nada" com Fábio Bianchinni

(Fotos: Graça Paes/Divulgação, Gabriel Menezes, João Pedro Durão, Rodrigo Mesquita e Arquivo Pessoal FB)

Série “Boas Entrevistas em Flashback”

Notoriedade não é para qualquer um. Fábio Bianchinni, que participou das novelas de sucesso TititiCaras & Bocas e Guerra dos Sexos, além de outras, do curta-metragem Sinal, com Bianca Rinaldi, e dos longas Flordelis e As aventuras do Tio Joãoperdidos na floresta, esteve arrasando no elenco da montagem brasileira de Ou Tudo ou Nada, musical criado a partir de um êxito de bilheteria do cinema nos anos 90, The Full Monty. Dirigido por Tadeu Aguiar, Fábio deu vida a Bobby/Keno, um stripper colecionador de admiradoras nessa produção suntuosa e de elenco afiado. Ele foi, nada menos, que um colírio para o público, principalmente o feminino, e um acerto aos olhos de críticos, o que o faz realizado desde que abraçou com força e talento este presente de personagem.
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Um dos momentos mais felizes de Bianchinni, na televisão, ocorreu ao viver o Álvaro Assunção, amigo de Dercy Gonçalves (Heloísa Périssé) em Dercy de Verdade — dirigida por Jorge Fernando. Por ser um personagem sincero e positivista, acabou chamando a atenção dos telespectadores.
Positivamente, com este querido ator, relembramos mais um bate-papo.
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Em "Dercy de Verdade"
IZAN SANT - Como pintou o convite para estar no musical?
FÁBIO BIANCHINNI – Na época em que recebi o convite, eu fazia a peça “O dia em que raptaram o Papa”. Também dirigida por Tadeu Aguiar. Neste tempo ele já falou sobre o musical, sobre este mesmo personagem e se eu toparia fazer.
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Com o ator Cláudio Mendes
IZAN – O Bobby era o instigador para que o Jerry decidisse que iria conseguir dinheiro, através do strip-tease, para pagar a pensão do filho. Como você conceitua esse seu personagem, então, a partir dessa situação?
FÁBIO – Ele era um sobrevivente de toda a crise que acontecia ali. Um cara que saiu do conforto da cidade a qual não mais ofertava tal conforto e foi usar o que tinha de melhor, seu físico, seu lado sexy, e ganhar dinheiro desta forma, sendo um stripper. Dos motivos que levou Jerry a querer fazer o mesmo, a princípio, foi o preconceito em saber que um homem homossexual ganhava dinheiro se apresentando para as mulheres, e ele, que se considerava um homem de verdade, por ser heterossexual, não! Ficou indignado com isso e resolveu fazer o mesmo para espantar a crise. Depois acabam até mesmo virando colegas e até aprendeu uns truques com o stripper!
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Aqui, ao lado do amigo Mouhamed Harfouch
IZAN – Grande parte das mulheres da plateia iam ao delírio quando você surgia logo na primeira cena. Isso o envolveu?  
FÁBIO – Tentava não me envolver muito na emoção delas para não perder o foco da cena! Mas é inevitável não participar desta energia, o que eu fazia era transformar a euforia, os gritinhos, os comentários, que algumas vezes davam pra ouvir, em incentivo para fazer uma boa apresentação. Me sentia bem! (Risos gostosos.)

IZAN – E quanto ao reconhecimento desse personagem pelo público? O que tem ouvido de mulheres e homens no teatro ou nas ruas?
FÁBIO – As mulheres são mais tímidas, pediam uma foto, davam os parabéns, algumas falavam que tenho uma bundinha bonitinha! (Risos.) O assédio maior era das senhorinhas, elas adoravam. Já o assédio masculino era mais direto, davam os parabéns, falavam do corpo, chamavam de gostoso e até mandavam umas cantadas. Até hoje levo numa boa. Acho engraçado.
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Ensaio Fotográfico
IZAN – Qual foi o momento mais emocionante do espetáculo, ao seu ver?
FÁBIO – Sou suspeito pra falar de um momento emocionante porque gosto muito do espetáculo no todo. Mas destaco o número musical do Jegue, Sérgio Menezes, que é muito bem executado e divertidíssimo. Também a abertura do segundo ato feito com número musical da personagem realizada lindamente pela Sylvia Massari junto aos seis rapazes! Gosto bastante. E o número final, onde executavam o strip-tease, que todos esperavam e, realmente, era emocionante, engraçado e a plateia ia ao delírio. Olha, sinceramente, gostei de tudo.
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Pose sensual: "Ou Tudo ou Nada"
IZAN – Do teatro para a TV. Que trabalho lhe deu mais prazer na Rede Globo? Arrisco um palpite, mas não sei: o Álvaro Assunção, de Dercy de Verdade.
FÁBIO – Seu palpite está certo. Foi, sim, a série “Dercy de verdade”, com o personagem Álvaro Assunção, amigo de Dercy em vida. Foi ótimo fazer parte da equipe, trabalhar com Heloísa Périssé e Jorginho Fernando. E todo elenco, que é maravilhoso. Uma equipe que já conhecia desde a novela “Tititi”, que também foi escrita por Maria Adelaide Amaral.

IZAN – Você é um homem vaidoso?
FÁBIO – Não sou muito vaidoso no sentido cosméticos e produtos para beleza. Mas me cuido no sentido de manter a forma, exercícios físicos, boa alimentação. Isso já dá um trabalho danado! (Risos.) Mas gosto e faço com prazer!
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IZAN – A leitura atual do Fábio Bianchinni é...?
FÁBIO – Leio muitas coisas num mesmo período. Também gosto muito de artigos sobre o cérebro, então compro revistas como “O mundo secreto do cérebro”, e ainda “Segredos da mente”. Este assunto me fascina.
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Adptação para o teatro de "Um Bonde Chamado Desejo', batizada como "Desejo"
IZAN – O Brasil, hoje, encontra-se...? E precisaria de...?
FÁBIO – Desculpe a sinceridade para a resposta, mas nosso país se encontra totalmente perdido e precisaria de grandes atitudes, atitudes nobres e de bons administradores, para se encontrar. Educação, saúde, segurança, política, economia. Assunto para se debater por horas! E estamos defasados em todos os aspectos. Precisaria de que tivéssemos mais atitude em cobrar nossos direitos, fazer valer nossas vontades e necessidades básicas, que não existem, mas não fomos educados para isso, fomos educados para aceitar e nós virarmos com o que temos. Precisamos reverter esta condição o mais rápido possível. Sei que uma pequena parte já faz. Temos que nos unir a esta parte e nos tornarmos grandes.
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Um ator também superligado às cenas de ação
IZAN – Sua mensagem super do Bem aos fãs do ator repleto de carisma que você é?
FÁBIO Muito obrigado pelo ator carismático! Quero desejar muitas felicidades e realizações a todos que gostam do meu trabalho. Que Deus os abençoe e que continuem mandando está energia positiva, pois só assim podemos colaborar para um mundo melhor. Fazendo o bem e desejando o bem ao próximo. Beijos, e obrigado de coração!
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Garoto-propaganda com o Manda Dreher
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18 de julho de 2019

Um sol global de Atriz

Sylvia Bandeira (Fotos: Arquivo Pessoal da atriz, cantora e escritora)

Série “Boas Entrevistas em Flashback”

Novela da Rede Globo, “Sol Nascente”, no ar de agosto de 2016 a março de 2017, chegou chegando: trazendo, de presente aos telespectadores, um enredo nota 10 e Sylvia Bandeira.
Atuante em sucessos como “Lua Cheia de Amor” e “Bebê a Bordo” (esta reprisada pelo Canal Viva), dentre outros, Sylvia estreou na Globo em “Um Sonho a mais”, interpretando a protagonista Stella.
Sempre glamourosa, ela sabe como ninguém cativar o público, seja encarnando vilãs ou não.
A respeito da sua personagem Ana Clara, na época a atriz me contou: “Ana Clara é bem interessante. Quando começa a novela, ela está feliz, casada pela segunda vez com Patrick (Jean Pierre Noher). Juntos, cuidam da Pousada Marseille, no balneário Arraial do Sol Nascente”.
Agora, vamos deixar você conectado com (e lembrando) a vida da personagem. Sylvia nos falou sobre ela, incluindo, na conversa, os temas fama, amor, família, etc.

Acompanhe a Entrevista Flash.

IZAN SANT – Mais uma novela do Walther Negrão, pois você já fez “Vila Madalena” dele, onde viveu a Elvira. Descreva este momento profissional.
SYLVIA BANDEIRA – Estou feliz e sei disso! A novela do Walther é um charme só, e tem tudo para ser um grande sucesso. Um elenco maravilhoso, uma história leve, nossos emigrantes italianos, japoneses, caiçaras, amor, aventura, de tudo um pouco em cenários paradisíacos.
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IZAN – A Ana Clara, quem é ela mesmo? 
SYLVIA – Ana Clara teve um passado conturbado com o ex-marido, pai de sua única filha Carol (Maria Joana). Carol optou ficar com o pai na época da separação e resolve voltar a viver com a mãe. Ana não percebe, mas a filha irá, aos poucos, interferir na aparente calmaria da vida do casal.

IZAN – Vamos à fama. Gosta de ser famosa?
SYLVIA – Gosto de ter meu trabalho, como atriz, reconhecido. A fama é ilusória e definitivamente não faz parte das minhas preferências.

IZAN – O que é fundamental na sua vida?
SYLVIA – Família, amigos e estar trabalhando no que gosto!

IZAN – Produção e Direção de “Sol Nascente”. Uma nota, e por quê?
SYLVIA - Impecáveis! Tanto a produção como a direção e escolha de elenco. Todos gentis e profissionais.

IZAN – Um breve bate-bola! Amor?
SYLVIA – Fundamental sempre.
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IZAN - Família.
SYLVIA – Esteio, porto seguro!

IZAN - Qualidade?
SYLVIA – Otimismo.

IZAN - Defeito?
SYLVIA – Pavio curto.

IZAN – Tem, ainda, algum sonho de consumo?
SYLVIA – Dinheiro suficiente para produzir minhas peças e voltar com “Marlene Dietrich — as pernas do século”.

IZAN – Uma dica aos atores iniciantes? Em seguida, um beijo, que vai para...?
SYLVIA – Trabalho e persistência, e, principalmente, não se deslumbrarem com sucesso fácil. Um beijo vai para todos os atletas que se empenharam na última Olimpíada, fazendo com que nós, brasileiros, esquecêssemos por um tempo as imensas dificuldades que o país está atravessando!

O livro da Sylvia, "Mamãe costura e
esta noite vou te ver", encontre aqui
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11 de julho de 2019

Novelista portuguesa Maria João Costa: Especial Entrevista

(Foto: gentilmente cedida pela autora)
Linda, carismática, de uma competência admirável, por isto premiada com o Emmy 2018, por “Ouro Verde”, novela transmitida pela Band (Brasil), Maria João Costa é como um sol: surge para iluminar nossos olhos e pensamentos, estes através de suas tramas realistas e polêmicas – nos melhores sentidos de ambas as palavras. Alguém que já considero uma amiga (como se fosse de longa data mesmo), uma autora que veio para ficar. Nosso papo enveredou por suas profissões, o Emmy, preferências, suas novelas, profissionais da TV que são talentosos... No entanto, sem mais dicas, porque vêm surpresas brilhantes nas respostas, minha primeira pergunta foi...    

IZAN SANT – Você se imaginava como ganhadora do Emmy? Já havia um sentimento positivo dentro de você?
MARIA JOÃO COSTA – É muito curiosa essa pergunta porque sempre brinquei com minha equipe a respeito, lhes dizendo que nos tínhamos de nos empenhar no que estávamos fazendo porque tínhamos de ganhar o Emmy. É evidente que, de sonhar com esse prémio a realmente subir no palco em Nova Iorque para o receber, vai uma distância enorme, mas sempre tive como lema que o impossível é só o que não se tentou.

IZAN – Soube que o José Eduardo Moniz a desafiou a escrever novelas. Como ocorreu, de facto, esse desafio?
MARIA JOÃO COSTA – Eu vivia ainda no Brasil (para quem não sabe, vivi no Rio de Janeiro quase cinco anos), quando comecei a falar com o José Eduardo Moniz da TVI (uma espécie de Boni português) sobre a possibilidade de escrever uma novela. Na época não passava de uma ilustre desconhecida no roteirismo, minha experiência era zero, apesar da minha ligação a áreas de conteúdos ser antiga (comecei como jornalista ainda na faculdade e depois fui Publisher de livros durante quase dez anos). Para saltar algumas etapas, restava-me arrumar um jeito de convencer o Moniz de que eu tinha capacidade para ser autora titular. Um certo dia, ele comenta comigo que gostaria de ter uma novela cuja história se passasse entre Portugal e Brasil e aí eu pensei: está aqui minha chance. A verdade é que não me foi feito um convite formal para apresentar uma sinopse sobre a temática: eu é quem quis acreditar que sim, e não deixei passar a oportunidade. De cara lhe disse que se queriam uma novela entre os dois países iria ser eu a escrevê-la, e logo comecei a trabalhar numa sinopse. Como vão poder ver a premissa da história central é muito clássica. O nosso Jorge Monforte é uma espécie de Conde de Monte Cristo na matriz (não mais do que isso), mas tive de jogar pelo seguro. Já chegava não ser conhecida no meio, nem ter experiência: não podia apresentar uma ideia totalmente fora da caixa. Foi assim que surgiu o primeiro rascunho de “Ouro Verde”, que permitiu a entrada nesse mundo da TV e do roteirismo.

IZAN – Quem escolheu o Diogo Morgado e a Joana de Verona, que são incríveis, como casal protagonista? Você, unicamente, ou em comum acordo com a Direção?
MARIA JOÃO COSTA – Essas decisões são sempre tomadas em conjunto.

IZAN – Autora, editora e guionista. Explique-nos como foi o início de sua carreira, a partir de seu primeiro emprego.
MARIA JOÃO COSTA – Isso seria uma longa, longa conversa. Mas muito brevemente, comecei a trabalhar como jornalista quando ainda estudava na faculdade de Direito. O trabalho começou como um hobby que se foi tornando mais sério à medida que o tempo foi passando, sobretudo quando estava no último ano da faculdade e me convidaram a integrar um novo projeto de informação da RTP (Televisão Pública Portuguesa), um canal inteiramente de notícias, para o qual estavam a recrutar um grupo de 50 jovens jornalistas, no qual me incluíram, a quem deram formação geral em TV (teórica e prática). Graças a esse projeto aprendi a filmar, editar, etc. O conceito era que qualquer um dos jornalistas fosse totalmente independente. Ele poderia sair e recolher a imagem, editar a matéria, inserir a informação no sistema da régie... Éramos jornalistas todo o terreno. Daqui mudei para a área de programas da RTP, onde trabalhei nos bastidores durante um tempo. Daqui tentei pela primeira vez a minha sorte com o Brasil, e consegui um trabalho com a TV Globo, no GNT Portugal, que era uma espécie de TV Globo Internacional em Portugal (que passava os programas de maior sucesso da Rede Globo), onde fazia o programa Braços Abertos, um híbrido entre informação e entretenimento que pretendia fazer a ponte entre Portugal e Brasil. Quando a TV Globo deixou Portugal em 2006 (sendo que, entretanto, voltou), comecei a trabalhar na edição. Foi quando integrei as edições Dom Quixote (a Companhia das Letras portuguesa) que, um ano depois, foram absorvidas pelo grupo Leya. Fiquei nesta área quase dez anos, entre Portugal e Brasil, já que em 2012 me mudei para o Rio de Janeiro para abrir o escritório da Leya lá. Aproveitei esta minha passagem pelo Brasil para mergulhar a fundo no estudo do roteirismo, aproveitando o boom que a nova lei do audiovisual tinha provocado de oportunidades no estudo da área. Fiz vários cursos de roteiro para séries e telenovela, fiz cursos de interpretação para TV (apenas para entender como é estar na pele dos atores, sentir as suas dificuldades), o que foi muito produtivo para mim. Tive de compensar a minha falta de experiência na área com estudo, hábito que não abandonei até hoje.

IZAN – Sobre qual tema você mais gostava de escrever em “Ouro Verde”?
MARIA JOÃO COSTA – Em “Ouro Verde” me interessavam as ideias de tempo perdido e de que na vida existe uma espécie de justiça divina que trata sempre de colocar as coisas no lugar certo, sem que seja necessário mexermos um dedo para isso. Pode até demorar algum tempo, mas se confiarmos nisto, e como digo sempre, só temos de nos sentar na primeira fila de cadeirinha, ter alguma paciência e esperar que aconteça. Que foi o que o protagonista dessa trama não fez. Apesar de ter tido a paciência de esperar 15 anos para fazer justiça, ele não pensou em mais nada ao longo desse tempo. Ele hipotecou todo o seu presente àquela ideia de vingança. Certo de que só começaria a viver quando isso acontecesse. Só que o tempo foi passando, e quando chega o momento de fazer justiça, ele percebe que na verdade ele congelou a sua vida durante aqueles 15 anos, como se se tivesse recusado a viver de verdade, quando na realidade não precisaria de ter feito nada, porque a justiça seria feita de qualquer jeito, com ou sem a sua intervenção, graças à tal justiça divina de que falei. Perdemos muito tempo na vida com bandeiras pelas quais não vale a pena lutar.

IZAN – E em “Valor da Vida”?
MARIA JOÃO COSTA – Em “Valor da Vida” me interessava a ideia de como a memória é importante, se não fundamental, no processo de construção de identidade. Como que se sem isso não nos sentíssemos inteiros, não nos sentíssemos pessoas. Acho interessante a ideia de que estamos condenados a conviver com o nosso passado: por mais que o queiramos esquecer ou apagar, ele faz parte de quem somos hoje e sem ele estaríamos num lugar completamente diferente. A dado momento na história, por exemplo, uma personagem pergunta ao nosso protagonista (que está sem memória e atormentado por isso) se já pensou que devem existir no mundo muitas pessoas que pagariam para poder apagar as memórias do seu passado, para poderem ficar livres disso. Mas já pensaram que se isso acontecesse, o mais certo era que essas mesmas pessoas não descansassem enquanto não soubessem o que lhes aconteceu? Quem eram, de onde vinham? Porque como humanos temos essa necessidade de preencher a noção de tempo que nos precede. Se temos certa idade, temos de ter memórias do tempo que está para trás, para sabermos quem somos.

IZAN – “Ouro Verde” está conquistando o mundo. Como se sente, mesmo, em relação a isto?
MARIA JOÃO COSTA – Conquistando o mundo não sei, mas está já vendida para dezenas de países e é evidente que isso me enche de orgulho e satisfação. Não escrevo para o meu umbigo, justamente porque gosto que o que escrevo chegue ao maior número de pessoas, e desse ponto de vista “Ouro Verde” não poderia corresponder mais às minhas expetativas.

IZAN – Esta novela já havia sido galardoada pela Sociedade Portuguesa de Autores como Melhor Ficção do Ano e recebido o prémio Persona. Nesses dois casos, qual o grau da sua emoção?
MARIA JOÃO COSTA – É sempre bom receber prémios, não vou dizer o contrário. Porque isso é uma confirmação externa sobre o nosso trabalho, sem bem que a primeira são as audiências e a reação do público, coisa que também me dá muita satisfação, esse feedback de quem nos vê. No caso do prémio da Sociedade Portuguesa de Autores, tenho de confessar que foi um prémio que me deu bastante alegria receber, uma vez que foi a primeira vez que uma telenovela recebeu esse prémio em Portugal, o de melhor ficção do ano. E nós sabemos como é difícil e injusto uma novela estar a competir com seriados. Em relação ao  prémio Persona, que é um prémio que na verdade premeia mulheres no universo da Língua Portuguesa, acabo por ser galardoada pelo facto de ter escrito uma ficção onde a multiculturalidade da língua estava muito presente. No Brasil, por causa da dublagem não vão conseguir perceber isto, mas na versão original nós temos todas as sonoridades do português: temos os portugueses puros, temos os brasileiros falando português do Brasil, uma brasileira que conjuga as frases como se faz em Portugal, mas com a pronúncia do Brasil, temos portugueses que falam português do Brasil, temos angolanos que falam um português que tem a sua própria sonoridade... Enfim, temos todos os tons e sons da língua. Isso é muito interessante.

IZAN – Seus atores portugueses preferidos?
MARIA JOÃO COSTA – Muito difícil nomear. São vários e de várias idades diferentes. Não gosto de destacar ninguém em particular.

IZAN – E quais atores brasileiros admira?
MARIA JOÃO COSTA – O mesmo com os brasileiros, muito difícil destacar uns em prol de outros, se bem que há nomes como o da Fernanda Montenegro que são incontornáveis.

IZAN – O que acha da Lucélia Santos e do Edwin Luisi, que farão “Na Corda Bamba”, também na TVI, e viveram a Isaura e o Álvaro na novela “Escrava Isaura”, sucesso em diversos países, inclusive na sua terra, Portugal?
MARIA JOÃO COSTA – São dois excelentes atores que, com certeza, voltarão a fazer muito sucesso em Portugal.

IZAN – Está na expectativa de como os brasileiros receberão “Ouro Verde”?
MARIA JOÃO COSTA – Claro que sim.

IZAN – Algum livro de cabeceira no momento?
MARIA JOÃO COSTA – Tenho sempre uma pilha de livros na cabeceira, um vício que vem muito antes de me tornar editora, desde a infância. Tenho este hábito de ler vários livros em simultâneo... No momento, tanto estou lendo Nelson Rodrigues, curiosamente, com “Meu Destino é Pecar”, como o último thriller da coleção Millenium, como a não ficção de Martin Gilbert sobre Israel...

IZAN – Escritores favoritos, quais?
MARIA JOÃO COSTA – Difícil essa, mas tenho sempre o Sandor Marai (húngaro) no topo das minhas preferências com o seu livro “As Brasas”, no Brasil, que em Portugal se chama “As Velas Ardem até ao Fim”. Além dele, tenho várias preferencias literárias que se espalham no tempo e geografia: de Homero, a Vargas Llosa, de Alexandre Dumas a James Joyce, de Eça de Queiroz e Milton Hatoum, de José Eduardo Agualusa e Mia Couto a Thomas Man. De Kundera a Michel Houllebecq.

IZAN – Qual o seu melhor destino turístico?
MARIA JOÃO COSTA – Muito difícil ter um destino preferido com tantos lugares incríveis que há no mundo. Mas no momento estou com a Namíbia, onde estive recentemente, nos primeiros lugares da lista. Mas também adoro a Mongólia, por exemplo. Como adoro São Tomé e Príncipe. Já nem falo de Brasil, que é como casa para mim, que está cheio de lugares incríveis como Bonito e Iguaçu.

IZAN – Uma mensagem super do Bem aos fãs da Maria João Costa e aos leitores do Papo de Bem!
MARIA JOÃO COSTA – Espero que quem não viu “Ouro Verde” se divirta com a novela, e lanço um especial desafio aos leitores do Papo do Bem.

Obrigado pela entrevista, amada Maria João Costa!

Ouro Verde é sua nova aventura,
aqui, CENAS DA NOVELA PRA VOCÊ.
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4 de julho de 2019

Nas ondas da paixão

(Fotos: Divulgação e Arquivo Pessoal RB)
Série "Boas Entrevistas em Flashback"

Quando um rumo profissional de futuro certo está praticamente definido, mas migramos para outro é porque estamos errados, não é mesmo?
Nem sempre. O acerto aconteceu com Rosario Boyer, ao descobrir que, na verdade, era apaixonada por cinema logo após cursar Direito.
Quando me formei, não estava muito satisfeita com a profissão escolhida e comecei a pensar que, se pudesse voltar no tempo, queria ser diretora de cinema. Um dia vi um anúncio do curso de Cinema da Universidade Estácio de Sá e fui correndo fazer minha inscrição”, diz Rosario, um dos prestigiados nomes no mundo cinematográfico nacional e internacional.
Diretora, roteirista e produtora. Na nossa berlinda do Bem, portanto, ela, que acumula prêmios sem cessar no campo onde atua. Que venham mais!
IZAN SANT – Do cinema nacional, qual a sua maior referência em roteiro?
ROSARIO BOYER – Gosto muito de Júlio Meloni.

IZAN – Premiação atrás de premiação! O que de mais notável possui Os Tubarões de Copacabana, pra conquistar tantos prêmios?
ROSARIO – A temática do roteiro fala de valores que interessam a todos: amor, amizade, família, mas, sem dúvida, o fator determinante foram os atores, que fizeram um excelente trabalho.
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IZAN - Uma frase que mais traduz o longa?
ROSARIO – A frase que consta no cartaz, acima da foto dos surfistas: “As mais perigosas são as ondas da paixão”.

IZAN – Raul Gazolla, Rayanne Morais, Alcione Mazzeo, Ricardo Macchi, Marcos Veras são alguns nomes do longa-metragem. Você pode nos contar o segredo de escolher tão acertadamente um elenco? 
ROSARIO – Foi difícil conseguir o protagonista masculino, que tinha que ter 50 anos, saber surfar muito bem e ser muito atraente. O primeiro nome que veio à minha cabeça foi o de Evandro Mesquita, que adorou o roteiro, mas estava sem tempo, com muitos compromissos com a banda. Foi quando um amigo falou que Raul Gazolla surfava e adorei a ideia. Enviei o roteiro para Raul, que aceitou na hora. Para o papel de Nicole, necessitávamos de uma garota que tivesse olhos azuis, de muita beleza. O diretor de Fotografia, Neto Favaron, conheceu a Rayanne na praia de Copacabana, quando estava fazendo um teste com câmera subaquática. Rayanne, que era Miss Minas Gerais e depois foi Miss Rio de Janeiro, disse que estava cursando teatro na Cal e ele a convidou para fazer o teste de elenco. Com Alcione Mazzeo eu já tinha falado em relação a outro filme, e vi que ela era bastante parecida com Rayanne Morais, ideal para fazer o papel de mãe da protagonista. Ricardo Macchi fez teste para o papel de professor da escolinha de Surf e foi tão bem que pareceu que a personagem tinha sido criada para ele. A parte cômica do filme, ficou a cargo de Marcos Veras por sugestão de Raul Gazolla. Conseguir os atores certos foi uma mistura de boas relações e muita sorte.
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IZAN – A Rayanne recebeu o prêmio de melhor atriz no 5º. Dada Saheb Phalke Film Festival, em Nova Deli, na Índia. Ao receber a notícia, a Rosario reagiu...? 
ROSARIO – Fiquei feliz, mas não me surpreendi. Eu sempre incentivava os atores dizendo que ganhariam prêmios pelo filme. Alcione Mazzeo, Guil Silveira e  outros também mereceriam ganhar, mas, infelizmente, tem poucos festivais que premiam os atores coadjuvantes.
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IZAN – Embora já tenha colocado isso em alguma outra entrevista, o que é cinema pra você?
ROSARIO – Minha paixão.
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IZAN – Quais os diretores atuais que você mais admira? Ou, pelo menos, um.
ROSARIO – Como Diretora do Festival Brasil de Cinema Internacional, acabei de assistir os 1066 filmes que se inscreveram este ano para a 3ª. edição e fiquei surpresa com os trabalhos apresentados por novos diretores, do Brasil e do mundo. Porém minha preferência continua por Woddy Allen, Almodóvar, o argentino Juan José Campanella, e, do Brasil, o diretor Edu Felistoque.
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IZAN – Falamos bastante em longa. Agora, trabalhar em um curta-metragem, como cineasta, é exercitar a liberdade criativa e artística?
ROSARIO – Sim, já fiz alguns curtas, mas reconheço que não tenho muita habilidade para histórias de pouca duração. Gosto de trabalhar profundamente o lado psicológico das personagens e isso requer tempo. Admiro os realizadores que apresentam histórias maravilhosas em poucos minutos, infelizmente eu não consigo.
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IZAN – Por qual razão escolheu o Brasil como sua casa de atuação profissional?
ROSARIO – Escolhi o Brasil para morar, vim passar férias, achei o Rio de Janeiro uma cidade incrível e fiquei aqui. Se fosse pela profissão, jamais tivesse escolhido Brasil; aqui, fazer cinema independente é muito sacrificado.
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IZAN – Rosario Boyer, hoje, é que tipo de cineasta? Mudou um pouco, desde nossa entrevista a outro veículo pra cá?  
ROSARIO – Sempre fiz cinema autoral e, Deus mediante, vou continuar fazendo.
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IZAN – Como sempre fazemos, uma mensagem super do Bem aos cinéfilos!
ROSARIO – Peço que continuem apoiando o cinema nacional, como tem acontecido ultimamente. O cinema faz as pessoas mais felizes.
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