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(Fotos: Arquivo Pessoal do ator, diretor e produtor) |
Aos profissionais de Teatro.
By Alexandre Contini.
Apita o
árbitro, sinal de que a bola vai começar a rolar; toca a terceira campainha, é
hora de o espetáculo começar.
Não queira
eu ter a sabedoria de Nelson Rodrigues para comparar o Teatro com o Futebol,
nem pretendo fazer deste texto uma disputa entre as Artes Cênicas e os
Esportes, e, sim, mostrar as semelhanças de como o trabalho coletivo pode
atrair multidões em busca de catarse ou entretenimento, mas, como diria
Shakespeare, “se eu falhar neste intento,
por favor, corrijam-me com vosso entendimento”.
Vinte e
dois jogadores em campo, onze de cada lado defendendo seu escudo, sua pátria.
No palco, um grupo de atores defende seus ideais, suas crenças e,
principalmente, sua experiência como um Ser.
Ser ator significa ter uma rotina diferente da de
outras profissões, que exige muito mais do que o talento, te exige disciplina,
te cobra comprometimento e a resposta do público é imediata. Do mesmo modo que
um jogador fora de forma, por mais talentoso que seja, não alcança seu êxito
total; um ator despreparado não soma ao resultado final. Não interessa se
ganhou prêmios no passado, se emocionou a todos no espetáculo da semana
passada, o que importa é agora.
Depois de
abertas as cortinas, o Artista repete tudo o que ele faz todos os dias como se
fosse a primeira vez e, se não conseguir atingir um resultado esperado, sua
plateia vai embora e ele nunca mais terá a oportunidade de se comunicar — não
com mesma plateia.
Se bola na
trave não altera o placar, uma "quase piada" não arranca gargalhadas.
O espírito
de grupo é imprescindível em ambos os lugares. Tudo ensaiado pelo
Técnico/Treinador no intuito de envolver e surpreender o oponente. Ele escala
seu elenco, nos ensaio repete as jogadas, conhece as limitações de seu grupo,
decide qual o mais talentoso para cobrar as faltas, qual o posicionamento do
time e, de fora, assiste e analisa jogo após jogo.
No teatro
acontece da mesma forma. O Diretor orquestra o time, escolhe quem conduz a
bola, quem conta melhor sua história, quem é o responsável pelo drible
irreverente ou o capitão que dará a credibilidade para sua obra e ditará o
ritmo da peça. Mas o intuito está em surpreender a plateia, porque, diferente
do futebol, não existe competição, existe a proteção de uma concepção coletiva
em forma de arte.
E podemos
ir além nessas semelhanças, da mesma maneira que, todos os anos, os times de
futebol lançam uniformes para celebrar com seus torcedores. O Figurinista
desenha cada roupa dos personagens para celebrar com a plateia. O Cenógrafo
desenvolve o espaço onde a história será contada; em época de Copa do Mundo no
Brasil, podemos ver um Estádio mais bonito que o outro. Quantos jogos de
futebol já foram interrompidos por falta de iluminação? Não se faz teatro sem
um bom Iluminador para contar a história. E quando o gandula perde a bola, o jogo
para! Da mesma forma que se o contra-regra não retirar o objeto de cena,
estraga o ritmo do espetáculo.
Futebol é
teatral e Teatro é jogo cênico.
O que seria
da Copa de 94 se Romário não se desviasse do meteoro lançado por Branco na
cobrança de falta que originou o terceiro gol do Brasil contra a Holanda? O que
seria de Julieta sem Romeu? Ela estaria viva, casada com o Conde Paris, e Romeu
ainda escrevendo cartas para Rosalina? Não sei, mas a emoção e a catarse dessa
obra, ou desse gol, nos leva a lugares que não acessamos racionalmente, e é
esta a magia que nos faz assistir aos jogos ou voltar ao teatro: necessitamos
dessa química que explode em nossas mentes e contamina nosso corpo e a alma.
Se o
futebol é considerado “A Paixão Nacional” e a Teledramaturgia, prole
do Teatro, vem em segundo lugar, podemos confirmar que existe muito em comum
entre ambos, e que ainda existem muitos mistérios entre a Arte e o Esporte do
que sonha a nossa vã filosofia.
“A mais sórdida pelada é de uma complexidade
shakespeariana.”
(Nelson
Rodrigues)
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