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Ensaio fotográfico (Todas as fotos: Reprodução/Instagram EL | Autorizadas pelo ator) |
IZAN
SANT – Você é um dos atores mais premiados do teatro brasileiro. Como lida com isso?
EDWIN
LUISI – É verdade, já ganhei muitos
prêmios, talvez eu seja mesmo o ator que mais tenha ganho prêmios no teatro do
Brasil. Desde minha primeira peça, já ganhei um prêmio, que foi Revelação de
Ator, e, ao longo desses 40 e tantos anos de profissão, ganhei todos os prêmios
importantes, e outra particularidade é que nunca concorri a um prêmio que eu
não tenha ganho; ganhei absolutamente todos aos quais concorri. Agora, o
significado é apenas de reconhecimento: é muito bom ser reconhecido pelas
pessoas que fazem o teatro, a crítica, o júri, os colegas... Mesmo alguns
prêmios que o público nos dá, sempre é muito bom ser reconhecido. Mas eu passo
pelos mesmos problemas que todos os atores passam, sobretudo na época atual,
onde há muita dificuldade de você trabalhar bastante, com toda a crise cultural
que há. Não é porque ganhei vários prêmios que não deixo de, às vezes, ter
dificuldades mesmo, né? Mesmo pra fazer televisão, uma vez falei com um grande
executivo de uma televisão importante no Brasil, e ele disse: “Teus prêmios,
aqui dentro, não significam absolutamente nada, o que importa aqui é a vendagem
do produto; então nunca a gente vai chamar você por ter ganho prêmio ou não ter
ganho prêmio, vai chamar pelo seu desempenho junto ao público, é isso.” Então,
como você vê, não tem muito significado no Brasil, sobretudo. Se eu fosse um
ator estrangeiro, talvez tivesse mais significado, mas, no Brasil, as pessoas, como
a gente sempre disse, têm uma memória muito curta. Se você não está sempre
trabalhando, fazendo por acontecer, a vida se torna muito difícil. Mas, de
qualquer jeito, tenho a sorte de não parar de trabalhar em teatro, que é meu
domínio mesmo, é onde me sinto mais realizado.
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Modelando, sensual, na década de 70 |
IZAN
– Tem uma predileção especial por qual tipo de papel e que lembranças você
possui das novelas das seis dos anos 70, como “Escrava Isaura” e “Dona Xepa”?
EDWIN – Não tenho uma predileção, não. Gosto mais de
personagens que eu possa compor. Sou um ator de composição, para mim é muito
mais fácil compor do que fazer esse naturalismo que domina a novela, que é uma
linguagem própria; a linguagem é mais naturalista, mais cotidiana, mais
superficial. Então, quando há um trabalho de composição, ele é muito melhor
para mim. E outra coisa: prefiro sempre fazer um bom papel, seja ele um
personagem que vai para o caminho do bem, ou o caminho do mal, o vilão ou o
mocinho, o que quer que seja; desde que ele seja bom, me dá satisfação em
fazer. Agora, quanto às lembranças que tenho daquela época das novelas das seis,
era uma época muito diferente de hoje: a televisão era muito mais doméstica,
hoje virou, realmente, uma grande indústria, e dá uma certa saudade daquele
clima familiar que a gente tinha, todo mundo se conhecia, porque era na Globo, no
Jardim Botânico, perto da minha casa... Hoje em dia, com a televisão no Projac,
já ficou muito indústria. Dá saudade daquela época, mas também a gente tem que
viver a vida da gente, e cada época é uma época; a gente tem que tentar tirar
prazer de todos os momentos da vida. Então quando faço televisão hoje, às vezes
falo assim: “Poxa, era tão bom antigamente...”. Mas o dia-a-dia de hoje também
tem seus encantos, e a gente deve fazer tudo com um grande encantamento sempre.
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IZAN
– O vilão Kleber Ribeiro Jordão, de “Suave Veneno”, deixou você irreconhecível na TV, que sensacional interpretação! Como
encarou esse personagem tão denso?
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Carinho com Lucélia nos bastidores de "Escrava Isaura" - Foto: TV Globo |
EDWIN – Bom, sou um ator de teatro, né? Estou habituado com
papéis densos. Agora, é engraçado, porque essa novela surgiu para mim como um convite
para fazer uma pequena participação, seriam uns três, quatro capítulos... e, de
repente, o autor, que é o Aguinaldo Silva, gostou tanto, que acho que fiquei
até o final da novela mesmo. Isso foi muito engraçado porque eu não tinha nome,
só descobriram no final. Eu me chamava “O Desconhecido”, tanto que o (José)
Wilker só me chamou, até o final da vida dele, de “O Desconhecido”. Então, “’O Desconhecido’” vai pra casa”, “’O Desconhecido’ entra no bar”, “’O Desconhecido’ fala com fulano”...
Era sempre “O Desconhecido”. O papel, realmente, exigiu de mim uma coloratura
com a qual eu não estava habituado em fazer em televisão, mas aí, como era um
personagem tão forte e tão denso, eu me armei com o conhecimento do teatro
mesmo, e foi assim. Foi um papel que deu muita satisfação, sobretudo porque era
um papel de uma participação em que acabei ficando justamente pelo fato de que
o Aguinaldo gostou muito.
IZAN
– Dos personagens que viveu na televisão, tem um favorito? Se sim, é o Álvaro?
EDWIN – É engraçado também isso, meu personagem
favorito da televisão não foi o Álvaro, foi o Chalaça, numa minissérie da
Manchete; talvez tenha sido o melhor papel que eu tenha feito. Agora, claro que
o Álvaro tem uma importância para mim que é um fator decisivo na minha vida:
foi com ele que fui apresentado ao Brasil, fui apresentado ao mundo
todo e é por causa dele, sobretudo, que estou indo para Portugal com a Lucélia.
Por causa desse personagem! Marcou demais minha vida. Sou muito grato, e adorei
fazer o papel, adoro esses papéis de época, mas, assim, como papel de
televisão, o melhor, o mais completo, com mais facetas de personalidade, com
cores diferentes, com temperamento, foi o Chalaça de “A Marquesa de Santos”.
Acho que foi o melhor papel que fiz.
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Com a amiga Glória Pires |
IZAN – A peça
teatral mais complexa que fez, qual foi e por que se tornou um desafio?
EDWIN – Olha, querido, tenho uma sorte de ter feito grandes
peças, grandes peças mesmo. Com grandes diretores, com grandes textos de
grandes autores, com elencos maravilhosos... e, ao longo da minha vida, fui
sempre trilhando um caminho em que fui selecionando para sempre fazer coisas
diferentes. Se faço uma comédia hoje, depois quero fazer um drama, a seguir
quero fazer uma peça de vanguarda, depois quero fazer uma peça-cabeça, em
seguida fazer um musical, enfim, sempre tentei variar muito. Acho que, com
isso, fui ganhando um tipo de experiência para fazer um tipo de personagem que
eu só podia ter feito, naquela altura da minha vida, com toda a bagagem teatral
que eu tinha. A peça chamava “Eu Sou Minha Própria Mulher”, uma peça muito
complexa em que eu fazia 22 personagens. Esse foi, talvez, o maior desafio da
minha vida, era um monólogo onde, às vezes, eu contracenava comigo mesmo com
cinco papéis conversando entre si; para cada um, uma voz... para cada um, um
temperamento... para cada um, um comportamento físico. Precisei de uma
concentração extrema para poder fazer esses personagens, porque, além de ser
sozinho, eu não tinha ninguém em quem me apoiar; eu tinha que fazer muitos
personagens, e isso requeria uma concentração única, como eu nunca tive igual
durante toda a minha vida profissional. Agora, eu, ao mesmo tempo, fiz um
personagem que também foi um fator decisivo na minha vida, que foi uma comédia.
Falei primeiro de “Eu Sou Minha Própria Mulher”, agora vou falar sobre “Tango,
Bolero e Cha Cha Cha”: só nestas peças, ganhei 12 prêmios, seis em uma e seis
em outra; ganhei os mais importantes, fora os prêmios que a gente não conta
muito, são medalhas, tributos, enfim. Em “Tango, Bolero e Cha Cha Cha” eu vivia
um transexual, e o grande desafio foi que eu queria realmente parecer uma
mulher, não um homem parecendo uma mulher, então todo o gestual, toda a voz,
todo o clima eram de uma mulher, este foi o grande diferencial, porque acho que
normalmente os homens, quando fazem mulheres, ficam apenas afetados, fica algo
meio veado, não é? E eu não queria fazer o tipo veado, eu queria fazer uma
mulher; para isso, tive que mudar todo um comportamento físico, a fim de me
habituar a ser uma mulher, não viver uma mulher. Isso foi muito bonito e todos
os críticos, que deram os prêmios, justamente falavam disso, porque foi a
primeira vez que um ator ganhou grandes prêmios numa comédia. Os críticos
normalmente dão prêmios para as pessoas que fazem dramas ou peças mais cabeça
ou mais vanguarda. Foi a primeira vez em que numa comédia rasgada um ator
ganhou tanto prêmio, e isso também foi um diferencial na minha vida.
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IZAN
– Assiste às novelas em que atua?
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Mais um ensaio - Nostalgia |
EDWIN – Olha, é muito curiosa a minha vida, não vejo
novela. Faço novela, mas não vejo. Faz mais de trinta anos que não vejo
dramaturgia, a não ser uma coisa muito especial. Também não tenho o hábito de
me ver, sou muito crítico. Eu, quando era jovem ator, eu ia à casa de alguém, e
se estivesse passando uma novela minha, eu pedia para desligar a TV, eu não
conseguia assistir juntamente com ninguém, nem sozinho eu conseguia ver. Hoje
em dia, vejo uma coisa ou outra apenas para ver se o caminho está certo. Mas
não vejo novela normalmente, não vejo nem meus trabalhos. Sabe estudar isso
para ver o que é que é? Deve haver um componente psicológico muito grande,
porque, para mim, é muito difícil eu me ver na televisão; nem em peça de
teatro, quando filmo, não vejo. Acho muito estranho, e deve ter um fator
psicológico forte, mas não consegui resolver até hoje.
IZAN
– Como é sua rotina em um dia normal, de folga?
EDWIN – Minha rotina, no dia-a-dia, é a mais comum, nunca
tentei me armar do fato de ser um ator conhecido, ou dessa indústria das
celebridades, jamais deixei que isso me afastasse da vida cotidiana. Gosto da
vida cotidiana, de ir ao supermercado, à feira, ao banco... Eu ainda não lido
com o banco virtual, vou ao banco, entro em loja, converso com as pessoas, é
bem comum. Ao mesmo tempo, é claro que tem o outro lado da vida, que são as
estreias, as festas, o que eu chamaria de glamour;
também tem, claro que tem, e também é gostoso: gosto de ver meus companheiros
num dia de estreia, num dia de festa, mas tento ter uma vida muito, muito,
muito comum, que me dá muito prazer.
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IZAN
– Você sempre aparentou ser mais jovem 15, 20 anos. Qual o segredo para se
estar bem em qualquer fase da vida?
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Um instante captado por @vincenzorichy |
EDWIN – Não sei, querido, acho que é genética, porque é o
seguinte: como as coisas que tenho que comer, não tenho uma dieta especial. O
que acho que mudou muito minha vida foi o fato de, aos 11 anos de idade, eu ter
feito ginástica olímpica. Fui 10 anos atleta de competição, cheguei a ser
Campeão Brasileiro de Ginástica Olímpica, ainda fazia handebol e fazia natação.
Isso deu um desenvolvimento no meu corpo, no meu esqueleto, no meu organismo de
muita saúde, eu tenho saúde, sei que tenho, posso falar de boca cheia: tenho
saúde. Nunca fui operado, nunca tomei remédio, nunca fiquei de cama... Não tomo
a vacina para gripe porque não lembro de ter pego gripe na minha vida. Devo ter
pego gripe quando era jovenzinho, ou adolescente, mas, depois que fiquei
adulto, nunca mais fiquei gripado, nunca fiquei de cama. Nunca teve um dia que
eu ficasse mal e deitasse à cama. Não é, então, só aparência, acho que esta
aparência minha é o reflexo deste organismo ultra e extremamente saudável.
Minha comida, eu que faço; mas é claro que também ponho o pé na jaca: adoro
torresmo, olha só que loucura... como carne, como massa, como absolutamente tudo,
não tenho nenhum tipo de dieta e nenhum tipo de restrição alimentar, como de
tudo. Ah, porque acho que a comida é um fator decisivo para você ser saudável,
mas não é meu caso. Não tomo nenhuma vitamina, nenhum complexo vitamínico, não
faço nenhum tratamento à base de colágeno ou cremes, o que quer que seja. Acho
que tenho a sorte de ser magro, ter cabelo... O que mais?... Ter cabelo e ser
magro já é uma grande vantagem. Não ser grande também conta, não sou um homem
alto, não sou forte, sou o tipo mignon,
isso também dá um certo ar de
juventude. Só isso, não tenho receita, não. (Risos gostosos.)
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Teatro - Em cena |
IZAN
– Um livro que você recomenda a nossos leitores? Por qual razão?
EDWIN – Sou um leitor ávido, leio muita coisa. Gosto muito
de biografia, acabei de ler agora a biografia dos Romanov, a dinastia que
imperou na Rússia até a queda dos czares. Mas o livro que acho essencial que as
pessoas leiam está aqui do meu lado, inclusive agora fugiu o nome. Acabei de
ler há pouco tempo, atrasado, porque todo mundo já tinha lido esse livro,
quando resolvi comprar, que é o “Sapiens”. Para quem gosta de entender de onde
viemos, como éramos, desde o tempo das cavernas, desde o tempo em que o homem
conseguiu se separar do macaco e surgiu o novo homem. Teve várias espécies até
surgir o Homo sapiens, é daí que descendemos, desse primeiro ser. É um livro
fascinante para quem curte esse tipo de obra didática, que você lê avidamente
como se fosse um grande romance.
IZAN
– Dentre as atrizes com as quais contracenou, com quem
foi mais gostoso trabalhar?
EDWIN – Pois é... Tive muitas parceiras interessantes ao
longo da minha carreira, muitas com quem fiz par romântico e, depois, algumas
com quem não fiz par romântico, mas de quem era muito bom estar perto,
trabalhar, contracenar... Assim foi com a Dina Sfat, a Nicette Bruno, a Marília
Pêra, a Nathália Timberg, mas não há dúvida de que quando você vive um papel de
casal, a cumplicidade passa a ser muito maior. E tenho uma paixão absoluta pela
Lucélia Santos, somos um par simbólico, emblemático e a química foi muito boa:
ficamos amigos da vida inteira, somos amigos até hoje, quarenta e tantos anos
que a gente é amigo, de se ligar, de sair, enfim... é muito bom. A Lucélia, até
por uma questão simbólica mesmo, acho que foi a pessoa mais deliciosa de
trabalhar.
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IZAN
– Uma novela memorável! Bom, pode ser mais de uma.
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Uma amiga para a vida toda |
EDWIN – A última novela a que assisti com mais frequência,
não de cabo a rabo, mas com mais frequência, foi uma novela de que gostei e foi
a última que vi. Chamava-se “Que Rei Sou Eu?”, eu adorava aquilo lá, achava uma
novela tão inteligente, tão especial, tão diferente... Acho que o Brasil
inteiro lembra dessa novela, porque foi muito boa.
IZAN
– Você gosta de encarar mais um texto de humor ou drama?
EDWIN – Gosto de encarar um bom personagem. E prefiro fazer
um grande texto de comédia e depois um grande texto de drama; variar, alternar. É engraçado, estou fazendo um drama, às vezes, e as pessoas falam:
“Você é um grande ator dramático”. De repente, faço comédia, e falam: “Você
é um grande ator cômico”, então, creio eu, que dou conta das duas
coisas. Mas não tenho preferência, não.
IZAN
– O que é, exatamente, liderança para você?
EDWIN – Liderança, para mim, é responsabilidade. Acho que
um líder sem responsabilidade – o que a gente vê muito no Brasil, um líder sem
responsabilidade – acho que está fadado a acontecer o que acontece com todos os
que a gente conhece. Acho que precisa ter responsabilidade, essa é a palavra.
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A superatriz Nicette Bruno - Mais um trabalho |
IZAN
– Mensagem super do Bem aos fãs do Edwin Luisi!
EDWIN – Minha mensagem para as pessoas...? Eu nunca fui
outra coisa na minha vida a não ser ator, e fui até mal-acostumado, porque,
logo de cara que comecei a trabalhar, fiz um estrondoso sucesso. E é tão bom
saber que a gente não está sozinho, porque quantas vezes me senti meio perdido,
sem as pessoas saberem se eu estava ou triste ou infeliz ou com problemas...? E
aí vem uma pessoa perto de você e fala coisas lindas a teu respeito, ou do teu
personagem, isso levanta a gente de um tal jeito... Saber que a gente é
querido, amado, respeitado, isso dá um calor na alma que não tem preço. Então,
às pessoas que me curtem, gostam de mim, que acompanham meu trabalho, só tenho,
após tantos anos de carreira, a agradecer pela fidelidade que essas pessoas
dedicam a mim um sorriso, uma palavra amiga, um abraço... Eu adoro, adoro quando as pessoas vêm perto de
mim com um reconhecimento do meu trabalho. A vocês todos, mando meu grande
abraço!
Mais reconhecimento, pois, na novela do
Rui Vilhena, Edwin. A você e à Lucélia!
Conheça uma emocionante música,
clicando: Para "Órfãos da Terra" em Portugal
Rui Vilhena, Edwin. A você e à Lucélia!
Conheça uma emocionante música,
clicando: Para "Órfãos da Terra" em Portugal
Ele e a Lucélia, fizeram história!!!! Excelente entrevista!!!!
ResponderEliminarotima entrevista ...como sempre !!!
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