18 de agosto de 2019

O multiartista Victor Maia

(Fotos: Bianca Oliveira, Gustavo Bakr e Marco Rodrigues)

Série “Boas Entrevistas em Flashback”

"Sou um cara hiperativo, muito exigente, metódico com meu trabalho e bagunceiro dentro de casa. Canceriano; logo, apaixonado. 3D, como me chamam alguns amigos, e extremamente fiel a todos eles", assim se define, em parte, o jovem Victor Maia. Ator formado pela UniRio, bailarino, cantor e coreógrafo nascido num 17 de julho.
Dono de outros personagens e do Ethan da antológica comédia “Ou Tudo ou Nada”, profissional respeitado devido aos musicais dos quais participou, ora atuando, ora codirigindo ou coreografando, seu principal lema é: “Eu preciso levar alegria e prazer às pessoas”.
Quanto a você, ganhe um pouco desses manjares, pois, com o Victor, na EXCLUSIVA ENTREVISTA.
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Ensaio Fotográfico
IZAN SANT – Como é seu dia, com tantas boas tarefas a desempenhar?
VICTOR MAIA – Meu dia é muito corrido. Acordo e vou correndo à academia para malhar e correr. Pro meu dia-a-dia, preciso estar fisicamente preparado e pro meu trabalho, mais ainda. Saio da academia e ou vou aos Estúdios Globo ensaiar as coreografias que monto para o “Caldeirão do Huck” ou para as gravações do mesmo programa. Depois corro para o CEFTEM, Escola de Formação para Atores em Teatro Musical, onde dou aula de dança e cumpro minha função como professor. E ainda preciso conciliar com as aulas de canto e estudos paralelos. De verdade... eu amo fazer tudo isso. Tenho muito prazer em realizar todas essas atividades, mas, de fato, o palco é o gozo! É lá que respiro feliz e aliviado por estar basicamente realizando aquilo que venho me preparando há anos para fazer.
IZAN – O convite para Ou Tudo ou Nada”, deu-se...?
VICTOR – Através dos produtores Eduardo Bakr e Tadeu Aguiar, que também dirigiu o espetáculo. Eu já havia trabalhado com eles em outros musicais e eles acharam que o Ethan, meu personagem, seria bem defendido por mim, porque além de ser um personagem comigo, exigia um trabalho de corpo muito forte. Não à toa me tacava no chão 7 vezes por sessão e não podia me machucar.
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Um dos bons saltos do Ethan
IZAN – Ethan está eterno na mente das pessoas que assistiram à peça. Pode defini-lo, mas dentro do seu ponto de vista exato?
VICTOR – Ele não sabia exatamente como, mas ele queria participar daquele espetáculo de alguma forma. Era um cara que ficou desempregado e realizava pequenas atividades para se manter com algum dinheiro, como encanador, pintor... mas depois que assistiu ao “Cantando na Chuva”, onde viu o ator Donald O'conner realizar um salto mortal coreografado pelas paredes, decidiu que queria fazer igual. Sempre quis ser um bailarino, mas não tinha o menor jeito pra dança. Quando ficou sabendo do show de strip-tease, decidiu ir até lá e se voluntariar para participar, e, por mais que não tivesse dotes artísticos, possuía um dote essencial para a nova atividade: um imenso pênis. Assim sendo, ele ia, ao longo da peça, descobrindo suas novas habilidades e uma paixão improvável dentro daquele sexteto. Ele era um cara que tava pra jogo. E não via a hora de se despir literal e metaforicamente.
IZAN – O inusitado Prêmio de Melhor Ator Coadjuvante do 4o. Botequim Cultural de Teatro pelo seu desempenho com esse personagem. Muita emoção?
VICTOR – Realmente eu não esperava, inesquecível. O Ethan, dos 6 protagonistas, era o que tinha a menor participação. Então a indicação e, sucessivamente, o prêmio, vieram como uma prova de que, mesmo sendo menor a participação, realizei um grande trabalho. Fiquei muito feliz.

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Nudez de 50 segundos do personagem
IZAN – A nudez lá pelo meio da peça e a nudez do final, tirou de letra?
VICTOR – Não foi fácil. Nenhuma delas. Ficar pelado requer coragem. É um desafio à vaidade. Mostrar tudo para a plateia e para os colegas de cena foi algo para o qual precisei ir me preparando psicologicamente durante o processo de ensaio. A coragem veio vindo. Não que eu tenha problema com meu corpo ou coisa parecida. Pelo contrário. Sou superbem resolvido e satisfeito. Mas ainda assim era preciso encontrar uma motivação para ficar peladão e assumir-se ali, na frente das pessoas, como viemos ao mundo. E, de todo o caso, a obra foi muito bem escrita, então a nudez não é gratuita. Faz parte do contexto. Desse modo me sentia protegido para fazer as cenas. Atualmente, confesso que adorava e, se pudesse, faria a peça toda pelado.
IZAN – Qual a cena mais feliz de Ou Tudo ou Nada?
VICTOR – Eu amo muito, até hoje, quatro cenas: a primeira, onde eu me apresentava aos personagens e à plateia, me tacava nas paredes, tirava a calça e saía contratado pelo grupo; a cena em que todos os protagonistas faziam o primeiro ensaio sem roupa, uns na frente dos outros e era um constrangimento só; a cena que cantava um dueto com o André Dias, no momento em que estávamos enterrando a mãe do personagem dele, que acabara de falecer; e, por fim, a última cena, onde fazíamos o grande show, momento mais esperado do espetáculo.
Ethan "policial"
IZAN – Trabalhos que mais adorou ter feito?
VICTOR – Antes do “Ou Tudo Ou Nada”, três trabalhos ficaram marcados na minha vida: “Quase Normal” (“Next to Normal”), musical americano montado no Brasil, também pelo Tadeu Aguiar, que me rendeu duas indicações a prêmio de melhor ator coadjuvante; “The Book of Mormon”, montado pela UNIRIO, que tive a sorte de coreografar e protagonizar nas últimas temporadas e era um deleite fazer mil e duzentas pessoas rirem todos os dias; e “O Meu Sangue Ferve Por Você”, musical que produzi e atuei ao lado de quatro amigos-atores-cantores maravilhosos, que começou despretensiosamente e teve uma carreira longa de quatro anos e meio!
IZAN – Tadeu Aguiar como diretor, nota e justificativa.
VICTOR - Não dá pra dar uma nota ao Tadeu porque, a cada dia, ele merece uma. Ele é um diretor generoso, ansioso, franco, bem-humorado e prático. Já trabalho com ele há cinco anos e posso dizer que cada vez que o encontro num projeto, ele está diferente. E é sempre uma deliciosa aventura trabalhar com ele. Ele esbanja amor por teatro e isso é contagiante. Conheço poucos homens tão guerreiros e corajosos quanto ele no ofício. Tadeu não deixa que a dificuldade do país destrua seu sonho e seu objetivo. Ele vai lá e faz. Ele, magicamente, dá um jeito e o espetáculo sai. É uma inspiração. Um verdadeiro empreendedor apaixonado e, ouso dizer, bem-sucedido.

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Novamente, Ensaio
IZAN – Beleza, para você, simboliza...?
VICTOR – Sinceridade, honestidade e essência. Tudo aquilo que é essencial e verdadeiro é belo.
IZAN – Paz de espírito é...?
VICTOR – Consciência limpa e tranquila.
IZAN – Melhor novela e seu novelista favorito?
VICTOR – “Tieta” e “Avenida Brasil”. Novelista, João Emanuel Carneiro.
IZAN – Seu passatempo predileto?
VICTOR – Cantar é meu passatempo. Canto o dia todo. No estúdio que tenho em casa ou no chuveiro, tomando banho, ou no carro, indo pra algum lugar.
IZAN – Os colegas de trabalho, em Ou Tudo ou Nada...?
VICTOR – Excelentes. O que a plateia assistiu no palco foi um reflexo dos bastidores. Éramos muito parceiros fora de cena, bem-humorados, brincalhões e nos dávamos muito suporte. Viramos uma família. Aliás, a gente ficava mais pelado na frente uns dos outros do que nas nossas casas para nossas famílias. Isso denota um grau de intimidade assustador.
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Sensualidade à flor da pele
IZAN – Em uma cena, na casa do Harold, o Ethan se entusiasmou ao mais alto grau, dizendo “Ai, meu Deus, quanta parede!...”. Um dos fracos dele, como sabemos, era se jogar em paredes. Muito treino, a fim de fazer algo que impressionou tanto o público?
VICTOR – Na infância e adolescência eu fazia muita luta. Fiz anos de judô e capoeira, o que me ensinou a cair no chão sem me machucar. O ballet me trouxe uma outra consciência corporal. Para interpretar o Ethan, precisei juntar toda essa experiência, me preparar fisicamente com uma personal trainer na academia e conversei com dublês na TV Globo, pra descobrir algumas técnicas.
IZAN – Mas, quanto às “paredes” da vida real hoje, no Brasil?
VICTOR – As paredes do mundo moderno são infinitamente mais complicadas... Damos com a cara na parede várias vezes, entramos em caminhos que achamos que é o seguro e pimba!, lá está a parede no final desse caminho numa via sem saída. Precisamos voltar e começar tudo do zero. Mas são essas experiências que nos definem como homens, formam nosso caráter e nos fazem lutar por paredes menos rígidas. O lance é não encostar nelas e cochilar.

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Protegendo-se bem - "Ou Tudo ou Nada"
IZAN – Victor Maia por Victor Maia?
VICTOR – Além do que já falei na introdução, sou louco pela minha família. Sou pavio curto quando testam a minha paciência e me faltam com o respeito, principalmente dentro do meio profissional. Ético até o último segundo. Gosto de fazer todo mundo rir o tempo todo e preciso de alguém que me peça para parar, senão sou capaz de não desligar nunca mais. Rezo diariamente para que o dia tenha 36 horas para eu conseguir dar conta de realizar todos os meus sonhos.
IZAN – Mensagem super do Bem ao público admirador do seu trabalho.
VICTOR – 
Todo esforço diário que faço é para executar um bom trabalho e fazer o coração das pessoas que me acompanham bater de felicidade. Não vivo sem o palco e sem o espectador. Enquanto vocês que me admiram estiverem ali para ver o recado que tenho para dar, independente do que eu esteja vivendo, estarei lá para me renovar e curar minhas dores. O palco é o melhor prontuário; o público, o melhor remédio. Obrigado a todos que torcem por mim. Estou aqui por vocês e para vocês. Evoé!

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